É um escritor africano de Língua Portugesa, nasceu da Beira, Moçambique em 1955. Publicou livros de contos como "Vozes anoitecidas", "Cada homem é uma raça" e "Cronicando"; romances como "Terra Sonanbula" e "estórias Abensonhadas". Mia Couto é comparado por alguns críticos a Guimarães Rosa devido ao Uso da Linguagem, o trabalho com a Palavra.
Sobre seu livro "estórias abensonhadas", saiu o seguinte comentário de Leda Rivas in: Diário de Pernambuco.
... a linguagem, plena de vocábulos novos, mistura os sons tribais, imemorialmente guardados no ventre da terra, com neologismos criados pela inventividade do ficcionista. O resultado é um português cada vez mais longe do verbo imposto pelo colonizador - mas completamente compreensível pelo homem comum.
Fragmento do Capítulo Chuva: a abensonhada
Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento?
Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto. Para Tia Tristereza a chuva não é assunto de clima mas recados dos espíritos. E a velha se atribui amplos sorriso: desta vez é que eu enxerguei o fato que ela tanto me insiste. Indumentária tão exibível e eu envergando mangas e gangas. Tristereza sacode em sua cabeça minha teimosia: haveria razoável argumento para eu me apresentar assim tão descortinado, sem me sujeitar às devidas aparências? Ela não entende.
(...)
Editora Nova Fronteira, 1996
p.43
Sobre seu livro "estórias abensonhadas", saiu o seguinte comentário de Leda Rivas in: Diário de Pernambuco.
... a linguagem, plena de vocábulos novos, mistura os sons tribais, imemorialmente guardados no ventre da terra, com neologismos criados pela inventividade do ficcionista. O resultado é um português cada vez mais longe do verbo imposto pelo colonizador - mas completamente compreensível pelo homem comum.
Fragmento do Capítulo Chuva: a abensonhada
Estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. Que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. A terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. Há quantos anos não chovia assim? De tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. O céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. A gente se indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento?
Agora, a chuva cai, cantarosa, abençoada. O chão, esse indigente indígena, vai ganhando variedades de belezas. Estou espreitando a rua como se estivesse à janela do meu inteiro país. Enquanto, lá fora, se repletam os charcos a velha Tristereza vai arrumando o quarto. Para Tia Tristereza a chuva não é assunto de clima mas recados dos espíritos. E a velha se atribui amplos sorriso: desta vez é que eu enxerguei o fato que ela tanto me insiste. Indumentária tão exibível e eu envergando mangas e gangas. Tristereza sacode em sua cabeça minha teimosia: haveria razoável argumento para eu me apresentar assim tão descortinado, sem me sujeitar às devidas aparências? Ela não entende.
(...)
Editora Nova Fronteira, 1996
p.43
Valeu por divulgar um fragmento da obra desse também biólogo moçambicano. Procurei outros textos na internet, encontrei o "Plastificar a cidade?" e lembrei dos encontros internacionais que ocorrem em nosso país.
ResponderExcluirhttp://www.macua.org/miacouto/index.html
Um abraço,
Flávia Ramos - NTE/Macaé